#2 Análise do Mercado de Trabalho em Saúde (AMTS) como suporte na criação de políticas públicas para a força de trabalho em saúde

Elaborado por: Alef Santos e Daniel Pagotto
Revisado por: Daiane Martins
Publicado em: 07/05/2024

Em 2022, a Organização Mundial da Saúde (OMS) lançou o handbook chamado "Strengthening the collection, analysis and use of health workforce data and information: a handbook" (título em inglês), "Fortalecendo a coleta, análise e uso de dados e informações sobre a força de trabalho em saúde" (tradução nossa). O livro é dividido em 18 capítulos e traz uma série de orientações acerca da qualificação do uso de dados e informações para a formulação e gestão de políticas de força de trabalho em saúde mais efetivas. Apresentaremos aqui a resenha da segunda parte do capítulo 1: "Health labour market analysis" (título em inglês), "Análise do Mercado de Trabalho em Saúde" (tradução nossa), escrito por Gilles Dussault, Pascal Zurn, Khassoum Diallo, James Campbell.

Sabia que a Análise do Mercado de Trabalho em Saúde (AMTS) é um importante subsídio para desenvolver políticas públicas? Isso mesmo! AMTS pode resultar em políticas públicas que visam otimizar alguns elementos determinantes da AMTS, como produção, entradas e saídas, má distribuição e ineficiências:

  • Produção da força de trabalho no mercado de trabalho da saúde: políticas ligadas à capacidade de formar novos profissionais no presente e futuro, tanto a partir de um olhar quantitativo, quanto qualitativo (especialidades necessárias e níveis de qualificação);
  • Entradas e saídas do mercado: políticas associadas à atração e retenção dos profissionais, por meio da identificação das motivações por trás de decisões de mudanças de carreira e emigração. Estudo de viabilidade de recrutamento de profissionais estrangeiros. Para fins de exemplificação deste último existe o programa Mais Médicos;
  • Má distribuição e ineficiências: políticas relacionadas à distribuição dos profissionais de saúde pelo território e em busca de melhorias na produtividade e regulação da qualidade das instituições de ensino.

O insumo essencial no diagnóstico e no desenho da política pública são os dados. Portanto, sua disponibilidade e qualidade são importantes nesse processo.

A recomendação é iniciar a construção de indicadores expressos em materiais consolidados, como o guia Contas Nacionais da Força de Trabalho em Saúde (OPAS/OMS, 2020). Tais indicadores são construídos a partir de diversas fontes, como censos, pesquisas domiciliares, registro dos diplomados pelas instituições de ensino, registros de migrações e contratos de trabalho.

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Elaborado pelos autores com base no manual "Contas Nacionais da Força de Trabalho em Saúde".

Embora exista maior facilidade de acesso aos dados provenientes do setor público, os do setor privado também devem ser utilizados na medida do possível. Para aferir a demanda, é possível acessar dados sobre postos de trabalho ocupados e abertos. Em relação aos dados sobre as necessidades há maior complexidade, visto que o resultado é proveniente de estimativas fundamentadas em estatísticas em que há maior diversidade de metodologias, como a Workload Indicators of Staffing Need (WISN) que determina a necessidade por profissionais de saúde em função das cargas de trabalho.

Uma vez que a AMTS encontra-se delineada, cabe aos governantes, gestores de políticas públicas e outros grupos de interesse avaliar e decidir sobre as opções de ações. Medidas sobre a oferta e estoque podem aumentar a produtividade, reduzir a escassez de determinados quadros e aumentar a oferta e melhorar a qualidade.

Por outro lado, com foco na demanda e necessidade, as medidas serão econômicas (expansionistas), definindo novas prioridades com os recursos necessários. Mas até a decisão se consolidar enquanto uma política pública, ela precisa passar por uma séria de validações, como avaliação da sua viabilidade econômica, eficiência, técnica, viabilidade organizacional e legal e aceitabilidade política e sociocultural.

A necessidade de políticas públicas sobre a força de trabalho em saúde se justifica pelo fato de geralmente não existir um equilíbrio de oferta e demanda. Contudo, existem pelo menos três grandes desafios para o estabelecimento da política:

1) dificuldade de estimar em horizontes temporais mais abrangentes;

2) a oferta e demanda estão em constante mudança;

3) há grupos com interesses, por vezes, conflitantes dentro da área política.

Diante desses desafios, é importante que ao menos a AMTS seja o mais fidedigna possível, pois ela é base para a construção de uma força de trabalho forte, sustentável e apta para a solução dos desafios na saúde. A AMTS é condição para um planejamento intergovernamental e envolvimento das partes interessadas, a fim de criar condições para o sucesso na implementação de políticas nacionais e regionais de saúde.

 

Fontes de informações:

Siyam. A, Nair, T.S, Diallo, K. Dussault, G. (2022). Strengthening the collection, analysis and use of health workforce data and information: a handbook. World Health Organization. Geneva. Disponível em: <https://iris.who.int/bitstream/handle/10665/365680/9789240058712-eng.pdf?sequence=1>
Organização Pan-Americana da Saúde. (2020). Contas Nacionais da Força de Trabalho em Saúde: Um Manual. Brasília. Disponível:<https://iris.paho.org/bitstream/handle/10665.2/52728/9789275722848_por.pdf>